Respostas

Posted by Danúbio on sexta-feira, 17 de abril de 2009 , under | Estiveram aqui... (6)



Quem disse que é tão fácil a vida real? Quem disse que no dia-a-dia as coisas acontecem como nos filmes ou nas novelas? Tudo é mais duro aqui fora, mais cru e nada, absolutamente nada é do jeito que a gente queria que fosse, principalmente o outro, aquele mesmo que a gente mais ama, a não ser que nos apaixonemos por um robõ e programemos ele para fazer o que mais a gente deseja, mas aí seria fácil demais, seria cômodo demais. Acho que tudo que passamos nessa vida, com os outros, pelos outros ou sozinhos mesmo nos torna mais fortes, mais toleráveis, e é hora de aprender novas lições, dessas que a vida ensina na chibata, à pulso. E sabe de uma coisa? já chegou a hora de ler nas entrelinhas, nos olhares, não espere palavras doces ou diretas, claras, essa são as que mais confundem, não espere gestos, eles seriam grosseiros. As mãos são duras e ásperas, mas os olhares, os olhares são diferentes, não enganam nem cegos. Agora é hora mesmo de aprender. A vida real, essa mesma que pulsa pra fora das janelas, das portas, essa mesma que grita sua crueldade em todas as esquinas dessas ruas esquecidas. Rasgue seus romances, todos esses que inebriam seus desejos. Viva e veja. Abra os olhos.

Para loucos apenas

Posted by Danúbio on quarta-feira, 15 de abril de 2009 , under | Estiveram aqui... (4)



Já sabia. Depois de 17 anos amargando rancores num sanatório compreende. Mas aos 13 não entendeu muito bem por que sua avó decidiu levá-la ao psiquiatra. São pra doidos, pensou, desses que rasgam dinheiro, que correm pelados pelas ruas. Ela não, se muito, pôs fogo na cama da vizinha, frustrada pelas tentativas de participar das brincadeiras de rua com as outras meninas do bairro. Tinha mania de jogar chaves no esgoto, todas que encontrasse, das portas de casas, de carros, de armários. Mas psiquiatras não cuidam de meninas que jogam chaves no esgoto ou pôe fogo na cama das vizinhas por vingança. De loucos apenas, desses que espumam pela boca, como cachorros raivosos. Que há de mal ficar em casa, comer cabelos, cortar o calcanhar com a lãmina do aparelho de barbear do irmão mais velho ou sufocar o gato com a almofada do sofá. Não entendeu mesmo. Que há de mal em se queimar com a chama da vela ou com a cera quente que ela chora. Era tão boa a sensação, como quando cortava a cabeça das bonecas e as pendurava na laranjeira do quintal. Psiquiatras não são pra acabar com o prazer que as pessoas sentem, só a loucura.
Hoje não, mas aos treze compreendeu: psiquiatras curam os loucos, não meninas que cortam a garganta de suas avós enquanto elas dormem.

Conheci um Kurt

Posted by Danúbio on quinta-feira, 9 de abril de 2009 , under | Estiveram aqui... (3)




Entre Kurt e eu sempre houve uma conexão, mais que Astrológica, de compreensão, independente de o que foi ele como RockStar (nunca lhe coube esse título mesmo, nem são essas palavras de mais um fâ esquizofrenico e frustrado pela sua ida). Além dos refletores e dos estúdios conheci um Kurt às vezes homem, às vezes menino, de olhos sempre marejados, de sorrisos rígidos e amigos sinceros. Nada consigo mais dizer e sei que nunca, nem se quisesse, nem num bilhão de palavras e gestos saberia te dizer o que penso e o que sinto sobre ele. E nunca, principalmente, seria capaz de julgar nenhum de seus atos, até o mais extremo. Sempre houveram razões. Elas sempre existem.
Conheci mesmo. Conheci um Kurt de calças apertadas, sapatos gastos, tocando um velho violão numa velha garagem de lugar nenhum, num chuvoso e frio 20 de agosto.

Quando colho os girassóis

Posted by Danúbio on sexta-feira, 3 de abril de 2009 , under | Estiveram aqui... (8)




Para Eulália, que
me iluminou com girassóis

Tenho andado por caminhos tão cinzentos, irregulares, cheios de poças de lama apodrecida, de buracos causados pela erosão das chuvas. Passam por mim invisíveis, todos. Também ando por ruas de pedra, dessas centenárias, mal iluminadas, com nevoeiros que quando cortam a luz formam fantasmas dóceis, desejáveis. Traço retas que não percorro, bamboleio, caio. Cruzo esquinas com cachorros famintos, derrubando latas, rasgando sacos de lixos, e uma podridão se espalha. Também passo por campos infinitos de girassóis, desses grandes, redondos perfeitos, caprichados. Ai os colho, aos montes, pois mesmo que por poucos os dias que durem, serão minha luz quando essa faltar, serão meu guia quando minha cabeça cambalear pelo peso dos anos, serão enfim, minhas lembranças, todas essas doces, quentes, infinitas.

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