Hoje, a maior falta é (...) Do seu canto

Posted by Danúbio on sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (8)



"Hoje, a maior falta
é da sua voz. Do seu
canto. Do seu sorriso.
Do seu jeito de me fazer rir,
mesmo quando a vontade
é de chorar. A falta é do teu
barulho e a tristeza é
pelo teu silêncio."

Fagner Damaceno

Amanheceu o Dia

Posted by Danúbio on , under | Estiveram aqui... (4)



O sol rasgou logo
cedo a manhã, e
foi cinza tudo,
morno, parado.
Senti falta
de um café
bem quentinho,
de um abraço
apertado e de um
choro no ombro. Carlinhos,
quando vocè chora suas
lágrimas não tocam seu rosto.
Me diz Carlinhos, por quê?

Eram duas redes apenas

Posted by Danúbio on terça-feira, 17 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (14)



Eram duas apenas. Naquela casa enorme, daquela cidade, só havia duas redes armadas. Redes de punhos espessos, de tramas grosseiras, cheirando ainda a algodão cru, lavado uma única vez. Não havia nada mais dentro de casa.
Eram dois apenas. Perdidos entre incertezas do futuro, sonhos realizados, outros tantos jogados. Eram jovens moços. Recém tirados do útero. Não sabiam de dores, nem de lágrimas, nem de escuro. Mas já temiam os outros daquela cidade, poucos sorrisos, poucos iguais. Olhares espantados escondidos entre cortinas de salas ainda desconhecidas. Testas franzidas mostradas a olho nu, sem pudor, sem medo de ferir.
Passavam tardes escaldantes se balançando naquelas redes, falando de tempos de quando nem se conheciam, de amores de outras cidades, de amigos de outras cidades, falando de tempos que ainda viriam. E já se desejavam. E pra não se olharem miravam fundo nas telhas a sua frente, acima, refletindo vermelho um sol que cozinhava tudo lá fora. E já se amavam. E para não se tocarem, cantavam músicas, muitas, todas essas que enchem a cabeça de jovens moços.
Mas duas redes era pouco para suas vidas, que começava a crescer lentamente. Trocaram as redes por camas primeiro. Aí veio uma TV, uma geladeira, fogão. Um rádio. E já não se desejavam, nem olhavam perdidos para o telhado. A TV era ainda mais atraente. E já não se amavam, nem cantavam músicas que enchem a cabeça de jovens moços. Era mais fácil apenas ouvi-las no rádio.
As redes foram esquecidas, jogadas num quartinho pequeno, mofavam silenciosas, chorosas em seu esquecimento.
Ainda quiseram, juro que sim, quiseram queimar tudo e resgatar piedosos as redes no quartinho, mas já não havia coragem. Havia medo. Apenas o medo de não se resistirem.

Das veias

Posted by Danúbio on domingo, 15 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (11)



I'm safe
Up high
Nothing can touch me
But why do I feel this party's over?
Max Martin
Das veias. É das veias que gosto mais. Aquelas azuis, cheias que histórias e de noites mal-dormidas. Cheias de feridas que sangram quando o inverno chega. Veias grossas, desesperadas por um fio. É das veias que gosto mais.

Manhãs de Verão aos pés da Chapada do Araripe

Posted by Danúbio on sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (6)














































imagens: João Eudes
Queria partilhar com vocês essas imagens fabulosas aqui do pé da serra na Chapada do Araripe. A gente roda tanto o mundo a procura de tesouros tão incertos que se esquece, ou finge não notar, que os presentes mais magníficos Deus os coloca a nossa porta. Um ótimo fim de semana pra todos vocês. Passem bem.
Abraços e beijos

A Maldição Dela

Posted by Danúbio on quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (8)



Achou que fosse uma maldição. Não por ter perdido a visão aos 4 anos, sempre conviveu muito bem com isso. Passarinhos mortos: foi a última cena que se lembra ter visto antes de tudo ficar escuro, de seus olhos se apagarem. No começo ainda notava vultos esbranquiçados dos outros de sua casa. Do sol, da Lua e outras coisas corriqueiras que conheceu quando podia ver. Ela sabia muito pouco. Sua imaginação era pequena, resumia-se a um sofá, cadeiras, uma boneca de pano, um rio e passarinhos mortos. Se tivesse que contar uma história esses seriam seus personagens.
E então tudo foi ficando cada vez mais escuro, as coisas que via perdiam o contorno e se misturavam ao escuro do cenário de sua visão. E com o passar dos anos também deixou de ouvir. Um a um dos outros de sua casa. Sua mãe, só ontem deixou de ouví-la. Talvez todos tenham ficado mudos. Aos 71 anos ela pensou: era mesmo uma maldição.

A dez dias do febril 20 De Fevereiro

Posted by Danúbio on terça-feira, 10 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (17)



Nunca compreendi muito o motivo de tantas pessoas comemorarem seus aniversários. Os meus, meu Deus!, foram sempre dias terríveis, medonhos, chôchos, sem luz. Também não entendo muito esse meu bode com esse tipo de comemoração (direto para o Analista). Ainda assim, aviso pros amigos, coloco no Orkut, jogo verde, mas é de dentro pra fora sabe: quando chega o dia é aquela coisa branca, parada, um vácuo só. Pra mim dia 20 é só o aniversário de Kurt Cobain e da minha vizinha, nunca o meu. E ai vêm os famosos MUITOS ANOS DE VIDA, QUE VOCÊ SEJA MUITO FELIZ e o impagável FELIZ ANIVERSÁRIO. aí você fica com aquela cara de tonto, tremendo o lábio, desesperado por uma lágrima, para mostrar que está emocionado e tal, mas a danada num vem. Acho que você só fica mais velho, mais sozinho, mais próximo do fim. Será que vou ter que pagar pelas minhas companhias? Será possível? 26 anos. Jesus, alguém rebobine a fita! Preciso recomeçar. Sei que não sobreviverei a Síndrome dos 27. Recomeçar já estaria de bom tamanho: em outro emprego, outras pessoas, em outro lugar. Pode ser aqui ou no Japão (será que me aceitariam no Japão?) Jovem brasileiro procura desesperadamente orientais de ambos os sexos e de qualquer idade para relacionamento amoroso e possível casório(é desespero mesmo). É sério agora: nesse aniversário vou me presentear com um novo começo. Novas possibilidades de me tornar melhor, menos vunérável a tantas futilidades. E tenho ainda dez dias pra planejar esse presente. Mãos à obra!

Não consigo terminar este conto

Posted by Danúbio on sábado, 7 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (7)



A idéia desse conto surgiu às três da manhã dessa madrugada, na garupa de uma motocicleta com alguns miligramas de álcool correndo em minhas veias. Precisei desesperadamente voltar, antes que ela me fugisse como tantas outras que se perderam. Sinto que as possibilidades com essa são maiores. Me vieram apenas o início, o fim e ospersonagens. Me falta o meio. Tenho medo dele, talvez por ainda estar se formando aqui dentro e eu não saber o quanto ele pode ser comprometedor ou mesmo pelo que pode representar para esse meu momento. Ainda assim, vamos a ele.


Se sentou no batente da cozinha e esperou. Já passava das cinco da tarde quando acendeu um cigarro e notou que no horizonte se formava um temporal desses que lavam tudo: casas, carros, ruas, homens, pessoas. Havia ainda roupas no varal no seu quintal grande de cidade pequena e um gato que brincava com algo que ela não conseguia enxergar, seus óculos estavam em cima da TV da cozinha e a mesma vontade que não tinha para apanhar as roupas do varal era e de não pegar seus óculos. Quis apenas esperar, talvez Leonardo pudesse estar perdido com alguma bobagem de esquina, uma conversa com colegas ou uma passada rápida na casa daquele seu amigo gordo. É Rodrigo o nome dele, pensou. Não sabia o motivo, mas desse tal de Rodrigo tinha ciúmes. Leonardo sempre sorri quando está com ele. Eu conheço bem os dois.
Eram exatamente cinco e dessesete no relógio da sala quando um garoto de dessesete anos, mochila nas costas e All Star nos pés apontou na esquina da padaria, era ele enfim. Notou sua camiseta molhada próximo a gola e nas axilas. Estava suado, podia, pois lembrou-se que nas sextas davam aulas de Educação Física na escola. Imaginou que cheiro poderia ser o dele. Já esteve com outros adolescentes de desseseis anos no tempo em que lecionava, mas não conseguia se lembrar. Já faz muito tempo. Talvez pudesse ser bem intenso. A mistura de todas as secreções daquele corpo poderiam resultar em uma poção quase que hipnótica. O cheiro é sempre o que fica. Quis sentí-lo, mas nem o vento que rondava poucas folhas no quintal trouxe outro cheiro além de o da chuva que se aproximava.
Ela era uma bela mulher branca. Apesar de seus quarenta e dois anos, apresentava ainda em suas carnes uma rigidez atraente. Tinha curvas que se acentuavam quando colocava aqueles vestidos de algodão, que quando contra a luz era possível ver o contorno de suas coxas e o volume de sua vagina. Eram linhas simétricas, perfeitas. Qualquer um daqueles garotos que passava nos fundos de seu quintal teria a mesma opinião. Era sutilmente ruiva, de olhos castanhos e lábios finos. Unhas feitas religiosamente às quartas depois do almoço, com dois cigarros e um café no intervalo entre as unhas das mãos e dos pés.
(...)
Agora já podia entrar, começava a chover. Esqueceu as roupas e o gato. Entrou. Acendeu mais um cigarro e a luz da cozinha. preparou velas para o caso de faltar energia. Era um temporal aquele. Pegou na geladeira cenouras e batatas.
- Vou fazer uma sopa.

E tudo é tão simples

Posted by Danúbio on quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009 , under | Estiveram aqui... (4)



Nem sei como começar, nem sei também o que e como dizer em palavras que façam vocês compreenderem, é necessária a experiência, mas vamos então: ontem, cansado dessa "vidinha" de cidade e TV e internet e noitadas larguei tudo e subi a serra, é um refúgio que tenho, poderia ser um lar, mas depois de tudo isso não consigo mais voltar a viver coisas simples, preciso de coisas grandes e intensas, mesmo que firam e doam. É um lugar impressionante, pessoas, amigos, águas, coisas: tudo emite algo que me deixa melhor, que me faz reviver coisas do tempo em que não tinha nada, em que podia tudo, por que meu tudo era muito pouco.
E me vi no fim do dia num barzinho absolutamente rústico, uma luzinha fraca no teto de telhas tão antigas quanto a História, de paredes de barro rebocadas a mão, com amigos do meu tempo em que era simples, tomando cerveja, fumando um cigarro paraguaio e falando de coisas e de tempos e de bobagens (Marcelo, vocè sabe do que estou falando, ja viveu essa experiência comigo). E eu me senti tão completo, tão pleno, tão normal, que só parei quando já nem podia mais contar quantas cervejas tinhamos bebido.
Então, eu só queria dizer que no meio daquela escuridão, vivenciando coisas grandes com pessoas que vivem com tão pouco eu me senti tão melhor, tão mais Ser e percebi algo que está claro, a gente sabe disso, mas que parece que nem quer ver (me perdoem o clichê): é tão bom viver coisas simples, sem dia-a-dia, sem dores, sem podridão, sem amargura. As vezes penso que tudo seria melhor se nem tivesse deixado minha casa pra viver essas coisas todas aí de fora: pessoas, livros , histórias, desejos e também sei, com amargor (existe essa palavra?) que não há mais volta, que nunca mais poderei viver aqui sabendo que o mundo é tão vasto, tão cheio de possibilidades e de pessoas que poderão me fazer feliz, ou ao menos menos doente ou triste. Eu só queria dizer isso.
P.S. E a todos que conheci quando deixei minha casa (por ordem cronológica e por representarem algo pra mim): Patrick, Mateus, Fabiomar, Francisco, Cris, Jonece, Dinho, Iraildo, José Augusto, Raimundo, Mary, Marcos, Biba, Zeli, Andressa, Marcelo, Carlinhos, Bruno Shiranga, Ísis, Vanessa, Leandro, Geordanne, Bruno, Elisa, Gleiciano, , quero dizer que amo muito vocês todos, valeu por tudo que a gente viveu juntos e aprendeu juntos, mas são parte dessa dor que sinto, talvez por estarem longe, ou por saber que alguns de vocês nunca mais verei. Nunca os esqueço.

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