Não consigo terminar este conto

sábado, 7 de fevereiro de 2009 , Posted by Danúbio at 05:57

A idéia desse conto surgiu às três da manhã dessa madrugada, na garupa de uma motocicleta com alguns miligramas de álcool correndo em minhas veias. Precisei desesperadamente voltar, antes que ela me fugisse como tantas outras que se perderam. Sinto que as possibilidades com essa são maiores. Me vieram apenas o início, o fim e ospersonagens. Me falta o meio. Tenho medo dele, talvez por ainda estar se formando aqui dentro e eu não saber o quanto ele pode ser comprometedor ou mesmo pelo que pode representar para esse meu momento. Ainda assim, vamos a ele.


Se sentou no batente da cozinha e esperou. Já passava das cinco da tarde quando acendeu um cigarro e notou que no horizonte se formava um temporal desses que lavam tudo: casas, carros, ruas, homens, pessoas. Havia ainda roupas no varal no seu quintal grande de cidade pequena e um gato que brincava com algo que ela não conseguia enxergar, seus óculos estavam em cima da TV da cozinha e a mesma vontade que não tinha para apanhar as roupas do varal era e de não pegar seus óculos. Quis apenas esperar, talvez Leonardo pudesse estar perdido com alguma bobagem de esquina, uma conversa com colegas ou uma passada rápida na casa daquele seu amigo gordo. É Rodrigo o nome dele, pensou. Não sabia o motivo, mas desse tal de Rodrigo tinha ciúmes. Leonardo sempre sorri quando está com ele. Eu conheço bem os dois.
Eram exatamente cinco e dessesete no relógio da sala quando um garoto de dessesete anos, mochila nas costas e All Star nos pés apontou na esquina da padaria, era ele enfim. Notou sua camiseta molhada próximo a gola e nas axilas. Estava suado, podia, pois lembrou-se que nas sextas davam aulas de Educação Física na escola. Imaginou que cheiro poderia ser o dele. Já esteve com outros adolescentes de desseseis anos no tempo em que lecionava, mas não conseguia se lembrar. Já faz muito tempo. Talvez pudesse ser bem intenso. A mistura de todas as secreções daquele corpo poderiam resultar em uma poção quase que hipnótica. O cheiro é sempre o que fica. Quis sentí-lo, mas nem o vento que rondava poucas folhas no quintal trouxe outro cheiro além de o da chuva que se aproximava.
Ela era uma bela mulher branca. Apesar de seus quarenta e dois anos, apresentava ainda em suas carnes uma rigidez atraente. Tinha curvas que se acentuavam quando colocava aqueles vestidos de algodão, que quando contra a luz era possível ver o contorno de suas coxas e o volume de sua vagina. Eram linhas simétricas, perfeitas. Qualquer um daqueles garotos que passava nos fundos de seu quintal teria a mesma opinião. Era sutilmente ruiva, de olhos castanhos e lábios finos. Unhas feitas religiosamente às quartas depois do almoço, com dois cigarros e um café no intervalo entre as unhas das mãos e dos pés.
(...)
Agora já podia entrar, começava a chover. Esqueceu as roupas e o gato. Entrou. Acendeu mais um cigarro e a luz da cozinha. preparou velas para o caso de faltar energia. Era um temporal aquele. Pegou na geladeira cenouras e batatas.
- Vou fazer uma sopa.

Currently have 7 Estiveram aqui...:

  1. Biba says:

    Os contos nos vem assim, quando a gente pouco espera por eles e se não os agarramos na hora, perdemos tudo. Já perdi vários. Poemas também. O que será que existe no meio dessa história? Espero que você descubra e conte pra gente.
    Beijos,
    Carpe Diem!!!

  1. Danúbio says:

    Biba, tenho medo que esse filho do meio seja disforme ou comprometedor demais. Quando ele quiser nascer talvez precise ainda de um tempo pra crescer, saber que rosto terá definitivamente, mas prometo que você será a primeira a conhecê-lo.
    Beijos

  1. Cadinho RoCo says:

    Na cozinha os óculos permaneceram na cegueira do esquecimento.
    Cadinho RoCo

  1. Danúbio says:
    Este comentário foi removido pelo autor.
  1. Danúbio says:

    Otíma visão da cena Cadinho Roco. Ela foi capaz de abandonar tudo por aquele breve momento naquele fim de tarde. O meio da história já começa a se formar. Hoje conheci melhor Leonardo.
    Valeu e abraços.

  1. Anônimo says:

    menino, cada detalhe interessante. fiquei curioso. muito bacana o lance da "poção quase que hipnótica". amei o conto. abração, meu irmão

  1. Danúbio says:

    Ira meu amigo, é inspiraçao demais sabe. Em todas as esquinas desse Ceará velho um olhar novo me inspira, tu conhece né?
    Escreveria mil contos.
    Beijos

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