A Maldição Dela
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
, Posted by Danúbio at 03:33
Achou que fosse uma maldição. Não por ter perdido a visão aos 4 anos, sempre conviveu muito bem com isso. Passarinhos mortos: foi a última cena que se lembra ter visto antes de tudo ficar escuro, de seus olhos se apagarem. No começo ainda notava vultos esbranquiçados dos outros de sua casa. Do sol, da Lua e outras coisas corriqueiras que conheceu quando podia ver. Ela sabia muito pouco. Sua imaginação era pequena, resumia-se a um sofá, cadeiras, uma boneca de pano, um rio e passarinhos mortos. Se tivesse que contar uma história esses seriam seus personagens.
E então tudo foi ficando cada vez mais escuro, as coisas que via perdiam o contorno e se misturavam ao escuro do cenário de sua visão. E com o passar dos anos também deixou de ouvir. Um a um dos outros de sua casa. Sua mãe, só ontem deixou de ouví-la. Talvez todos tenham ficado mudos. Aos 71 anos ela pensou: era mesmo uma maldição.
Tão lindo, tão profundo e triste ao mesmo tempo. Lembrei de uma personagem minha que também é cega na velhice. Passarinhos mortos é uma imagem para mim hitchcockiana, sempre.
Beijos
Carpe Diem!!
nossa, que lindo! obrigada pelo comentário em meu blogue! acho que a escrita sempre nos delata um pouco, mesmo fingindo ficção, mesmo brincando de esconder/revelar, a gente sempre deixa transparecer um pouco de nós mesmos!
um bjuuu
Biba, os passáros não estão por acaso. Obrigado pela visita. E quantas vezes nos tornamos cegos também. Talvez a realidade nos doa.
Beijos e ótimo programa.
Adri, obrigado pelo carinho. É verdade mesmo. É inútil tentar nos esconder. A gente sempre trata de se revelar. Somos nossos próprios delatores.
Abraços e ótimo programa. Daria tudo pra vê-lo. Beijos
uma tristeza mascarada pelas palavras. acho que é importante perceber aquilo que está além das palavras. você pode fazer um drama apelativo para comover, ou simplesmente expor as coisas como elas são, sendo que é assim que esse texto se mostra.
gostei muito!
abraços ^^
"Talvez todos tenham ficado mudos."
tou amando seus contos. vc anda muito inspirado, siga aproveitando este momento. abraços, meu mano!
Ira querido, é uma pena, mas a inspiração costuma surgir apenas quando estamos no nosso limite, quando o corpo não tolera mais a alma. Ainda assim quero continuar nesse doce doer.
Beijos
Obrigado Santiago pelas suas palavras, pela sua atenção. A dor é inerente ao espírito, sendo assim tem vida própria, se mostra onde e quando quer. Melhor que seja assim. É um pedido de socorro, talvez?
Abraços